CAPOEIRA É PRA TODOS

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A capoeira e os apelidos



Tenho acompanhado há a alguns meses algumas discussões sobre o uso de apelidos na capoeira. Acho a discussão válida, mas há alguns pontos que gostaria de comentar:

1) apelidos não são obrigatoriedade. Não é todo mundo que tem - o que para mim, indica que a coisa não é tão universal assim.

2) eu acredito no apelido que surge espontaneamente, decorrendo de uma situação específica. O que me incomoda é o apelido forçado. No dia do batizado, chega o mestre e diz "agora você é o Blablabla". Aí falta contexto mesmo - é a imposição que vai de encontro à liberdade pregada pela capoeira. O apelido é Blablabla "porquê o meu mestre falou que é" é uma baita escrotice, se me perguntarem...

3) a questão do que é que denigre - não é todo apelido que rebaixa, independente da raça. Creio que todo capoeirista conhece casos de apelidos "bacanas" e "ruins", aplicados a negros, amarelos e brancos.

Nem todo apelido é Macaco, Gambá, Minhoca, Magrelo, Cheiroso ou Urubu. Tem Velocidade, tem Coração, tem nomes de bairros, cidades natais, etc. E ainda assim, nem todo Macaco é negro, nem todo Gambá é mal-cheiroso. A variação de motivações é tão grande quanto, ou maior que a variação de nomes...

O bullying preocupa sim, especialmente nos apelidos que surgem naturalmente do grupo (e não do mestre): será que o Tripa Seca está mesmo feliz com o apelido dado pelos colegas de treino ? Isso precisa ser avaliado com cuidado pelo responsável, mas não necessariamente inibido - afinal de contas, vivemos em grupo, e o grupo age sobre nós assim como nós sobre ele.

A pessoa em cheque pelo apelido pode ter sofrimento sim, mas também pode usar disso para sair mais forte - é uma questão de maturidade (e por isso o olho do responsável é tão importante). Chamar um menino gordinho, de 12 anos, de "Baleia Encalhada" é uma coisa se ele sabe lidar com isso, e outra coisa muito diferente, se ele não sabe. A palavra-chave para mim, nesse caso, é "atenção".

Ser mestre não é só ensinar a se posicionar na roda, mas também a se posicionar no mundo. Ele deve intervir quando perceber ser necessário, ou quando os envolvidos solicitarem. E principalmente, ele deve ter autocrítica - para não se tornar ele mesmo o causador do sofrimento.

Resumindo, não acho que a questão de ser contra os apelidos é "muito barulho por nada", como muita gente grita por aí. Mas também não é o absurdo que tem sido pintado.

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