CAPOEIRA É PRA TODOS

CAPOEIRA É PRA TODOS

HISTORIAS

 

A arte de se jogar capoeira

Perseguida no início, hoje a prática é reconhecida como uma das mais importantes expressões culturais do país

Miriam Lins Caetano
5 período de Jornalismo


A Capoeira surgiu no Brasil como instrumento de luta dos escravos negros pela liberdade. Seus movimentos buscaram inspiração nas defesas e ataques dos animais (a marrada do touro, o coice do cavalo, a fisgada do rabo da arraia) e na ação de instrumentos de trabalho (o martelo, a foice).

A importância do ensino e da prática da Capoeira não está somente em sua bagagem histórico-cultural, ela ajuda a desenvolver qualidades físicas como força, velocidade, resistência muscular e cardio-respiratória, equilíbrio, coordenação motora, favorecendo a capacidade de esforço do organismo e o potencial de trabalho para fazer frente as exigências do cotidiano. Trabalha também o convívio grupal e social, estimulando o desenvolvimento do valor da lealdade, responsabilidade, confiança, disciplina, auto-conhecimento, contribuíndo e muito na formação da personalidade. Ao reunir com harmonia arte, música, poesia, folclore, artesanato, esporte, diversão, dança, jogo, luta, rituais e tradição, a Capoeira pode ser traduzida como a mais forte e completa expressão da cultura popular brasileira.

No período da colonização inicia-se o tráfico de escravos para a América, os negros eram aprisionados na África, trazidos e vendidos para o trabalho forçado em regime de completa escravidão. Para tornar o negro escravo, os escravistas suprimiam sua cultura, sua alma e tortu-ravam seus cor-pos. Interessa-vam apenas pelo físico, sua força de trabalho. Esta situação desu-mana a que foi submetido o negro, não era suficiente para suprimir sua condição de ser inteiro, de corpo e alma.

A Capoeira nasce neste período. Os negros a criaram para utilizá-la como luta no momento preciso para sua defesa e nos instantes de folga para se divertirem, para relaxar do trabalho forçado, das torturas e da condição de escravo.

Desde o seu início a Capoeira foi perseguida, o capoei-rista era considerado um marginal, um delin-quente, em que a socie-dade deveria vigiá-lo e as leis penais enquadrá-lo e puni-lo. Foram séculos de perseguição até quase os dias de hoje, porque a prática dava ao capoeirista um sentido de nacionalidade, possibilitava individualidade, auto-confiança. Formava grupos coesos, com jogadores ágeis e perigosos e, as vezes, no jogo, os escravos se machucavam, o que era economicamente indesejável.

Na década de 1930, se inicia um novo ciclo na história da Capoeira. Nesta época a situação do país não era nada boa, estávamos em pleno regime de forças, e dentre as leis penais, existia uma que considerava os capoeiristas como delinquentes peri-gosos, a situação an-dava preta para os capoeiristas. Manuel dos Reis Machado, Mestre Bimba, nesta época foi convidado pelo interventor federal na Bahia, Juracy Montenegro Magalhães, a ir ao Palácio do Governo. Mestre Bimba ficou assustado, achou que seria preso. Para sua surpresa, o governador queria que se apresentasse com seus alunos para mostrar "a nossa herança cultural" para amigos e autoridades no Palácio do Governo.

Em 09 de julho de 1937, Mestre Bimba consegue o registro de sua Academia, reconhecida pela Se-cretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública, primeira academia reconhe-cida no país.

Inicia-se a ascenção sócio-cultural, a Capoeira volta ao cenário cultural, está prsente na música, nas artes plásticas, na literatura, nos palcos. Termina a fase negra em sua história, onde a a Capoeira e todas as formas de manifestações culturais ficaram totalmente marginalizadas pela sociedade. Ela sobreviveu, o negro preservou sua luta, e ao transformá-la fizeram-na brasileira. De nada adiantaram as perseguições.
A Capoeira nos dias de hoje, vem adiquirindo maior número de adeptos de todas as raças e camadas sociais do Brasil e até de outros países. E é desses outros países que a Capoeira, devidamente ganha projeção mundial por ser uma arte em ritmos e movimentos que exprimem toda a criatividade de um povo que foi oprimido.

Com todo esse desenvolvimento, a sociedade ainda desconhece os verdadeiros valores e as contribuições que podem advir do conhecimento e prática da Capoeira. Atua também em situações lúdicas, Capoeira como brincadeira, despertando os participantes para atividades artísticas, musicais, cênicas, etc... ampliando e ativando energias criativas.

Em Uberaba existem atualmente 12 grupos de Capoeira, entre outros que estão começando agora, mistos de homens e mulheres de todas as idades. Neles trabalha-se, além da boa forma almejada por todos, um auto-estima e auto-confiança imprescindíveis ao capoeirista. Presente em todas as classes sociais, a Capoeira tem invadido não só praças e ruas para apresentações, mas também academias que tem clientes cada vez mais adeptos do novo esporte. As academias de Uberaba, espe-cificamente, tem suas aulas de capoeira lotadas de alunos, inclusive em alguns horários é preciso confirmar presença, para garantir espaço suficiente. Seus praticantes defendem que este é um esporte bem diferente dos outros, pois proporciona bem-estar por ter seus movimentos variados, existe sempre algo novo para se aprender a cada aula.

 

Mestre Pastinha

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Portal Bahia.svg A Wikipédia possui o Portal da Bahia. Artigos sobre história, cultura, personalidades e geografia.
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (Salvador, 5 de abril de 1889 — Salvador, 13 de novembro de 1981), foi um dos principais mestres de Capoeira da história.
Mais conhecido por Mestre Pastinha, nascido em 1889 dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto. Em depoimento prestado no ano de 1967, no 'Museu da Imagem e do Som', Mestre Pastinha relatou a história da sua vida: "Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza." A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existência.
"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui". Começou então a formação do mestre que dedicaria sua vida à transferência do legado da Cultura Africana a muitas gerações. Segundo ele, a partir deste momento, o aprendizado se dava a cada dia, até que aprendeu tudo. Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."
Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.
Em 1941, fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia. Hoje, o local que era a sede de sua academia é um restaurante do Senai.
Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.
Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, Curió, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso. Morreu aos 93 anos.
Vicente Ferreira Pastinha morreu no ano de 1981. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo. "Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:
"Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."

 

Como surgiu a capoeira?

por Tiago Cordeiro; Tiago Jokura
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A luta 100% brasileira foi criada no século 17 por escravos africanos da etnia banto. Por causa da origem, ficou proibida oficialmente até 1937, embora nunca tenha deixado de ser praticada. Nos anos 30, o baiano Manuel dos Reis Machado, o mestre Bimba, tirou os capoeiristas do chão, quebrou o gingado e incorporou golpes de outras lutas. Sua criação, a capoeira regional, se diferencia até hoje da capoeira angola, mais tradicional e difundida a partir da década de 1910 pelo baiano Vicente Ferreira, o mestre Pastinha. No século 20, a capoeira virou esporte, com direito a confederação nacional. Existem até torneios em que capoeiristas encaram lutadores de outras especialidades. "Nesses torneios, já vi muitos saindo carregados de maca", diz Eliane Dantas dos Anjos, autora de um estudo sobre a origem do nome dos principais golpes.


• Este é o 1º capítulo da série sobre as principais artes marciais do mundo


Jogo de pernas

A capoeira é praticada por 6 milhões de brasileiros. No mundo, são 8 milhões de capoeiristas espalhados por mais de 160 países


UNIFORME

Na capoeira regional, a roupa é sempre branca, com calças largas e camiseta - capoeirista descamisado é só para turista ver. Cordas coloridas, amarradas na cintura, indicariam o nível do jogador - a Confederação Brasileira já tentou padronizar uma escala que vai do verde ao branco, mas nem todo mundo concorda


MESTRE BIMBA

Capitão de navegação, com 1,93 m de altura e 89 kg, Manuel dos Reis Machado (1899-1974) inventou e popularizou a capoeira regional com golpes como o dobrado - ilustrado aqui. Bom de briga, incorporou elementos do jiu-jítsu, da luta livre, do savate (de origem francesa) e até do batuque - técnica já extinta


• A capoeira angola é jogada no chão porque os escravos praticavam dentro das senzalas, abaixo do parapeito da janela

• Há cem anos, além de comandar o ritmo, o berimbau servia para bater no capoeirista que não seguisse as regras da luta

• Uma das primeiras mulheres capoeiristas, ainda nos anos 30, foi Maria Doze Homens. Depois vieram outras com apelidos curiosos: Nega Didi, Satanás e Calça Rala


NO ATAQUE

Saltos e chutes podem ser acrobáticos e mortais


Martelo

Este é um dos golpes mais usados na capoeira. Uma variação do movimento, o martelo-de-chão, é mais rente ao solo


Rabo-de-arraia

Na regional, é um salto mortal para a frente, usado para acertar dois chutes em sequência, com o calcanhar, na cabeça do oponente


Meia-lua de compasso
O capoeirista apoia as mãos no chão e gira para acertar o adversário com o calcanhar. Um dos golpes mais precisos do famoso Madame Satã


NA DEFESA

Uso das mãos é fundamental para esquivas e contra-ataques


Cocorinha

Movimento simples para evitar golpes a meia altura. O capoeirista apoia a mão no chão para preparar um chute de revide




Serve para escapar preparando um contragolpe, mas com risco de tomar uma cabeçada. Mestre Pastinha dominava a técnica


Negativa

Golpe clássico do mestre Besouro - aquele que virou filme. O jogador se esquiva do golpe alto e dá uma rasteira no pé de apoio do adversário


ARENA

A roda, com capoeiristas dispostos em círculo, é o palco da luta


Círculo fechado


Mestres e outros discípulos, sem posições fixas, rodeiam os jogadores. Na capoeira angola, em geral, todo mundo fica sentado. Na regional, todos ficam em pé e batendo palmas


Banda

Na única arte marcial com trilha sonora, o ritmo da luta é ditado pelo berimbau - em geral são três, de sonoridades diferentes. Normalmente, eles são acompanhados por uma verdadeira banda: dois pandeiros, um atabaque, um agogô e um recorreco


Como acontece

Os capoeiristas se cumprimentam agachados e iniciam o jogo ao pé do berimbau. Não há pontuação nem tempo determinado para a luta acabar - algumas duram até meia hora. Quando um jogador parece cansado, alguém da roda "compra o jogo" e entra em seu lugar, cumprimentando-o
Como fazer um berimbau
Deixa eu ensinar pra vocês o que eu aprendi no último domingo, na oficina de confecção de berimbaus organizada pelo pessoal do Mestre Léo Borges.

FASE 1 - A verga





1) Obtenha a verga de uns 7 palmos de comprimento. Acho que as melhores madeiras são a Biriba e o Pau Pereira.


2) No lado mais grosso da verga, faça uma marcação a 1,5 cm da extremidade.


3) Serre na marcação uns 5 mm de profundidade, contornando toda a verga.



4) Este deverá ser o resultado.


5) Com muito cuidado, molde um pivô na extremidade da verga, cortando lascas até o local da serragem. Cuidado para não ultrapassar o ponto da serragem e para não deixar o pivô nem muito grosso e nem muito fino.





6) Faça o acabamento para arredondar o pivô moldado.



7) Agora vamos trabalhar na outra extremidade da verga, a mais fina. Providencie um pedaço de sola ou couro e duas tachinhas. Acho que qualquer sapateiro tem isso.



8) Posicione a sola, ou o couro, na extremidade mais fina da verga....


9) ... e pregue-a com as tachinhas. Disseram lá que se forem dois pedaços de couro fica melhor ainda! Não houve consenso, entretanto, sobre o número de tachinhas a serem utilizadas.


FASE 2 - O arame


10) Geralmente, usa-se arame de pneu em berimbaus. Em sua forma bruta, ele vem cheio de borracha pregada. Com a ajuda de uma faca, ou uma lixa, elimine-a. O arame deve ter um palmo e meio a mais que a verga.


11) Depois que toda a borracha tiver sido retirada do arame, vamos prepará-lo para fixação na verga.



12) Em uma extremidade do arame, faça um laço com o mesmo diâmetro do pivô que você fez na base da verga.


13) Capriche para que o laço encaixe-se perfeitamente ao pivô e cuidado para não deixar nenhuma ponta de arame sobrando, pois pode ser perigoso.



14) Na outra extremidade do arame, faça um laço menor.



15) Na extremidade do laço menor, amarre um barbante com cerca de um palmo de comprimento. Este barbante será utilizado na fixação da envergadura do berimbau, após sua montagem.


FASE 3 - A cabaça


16) Cabaça é uma planta da família da abóbora, melão e melancia, cujo fruto tem uma casca extremamente rígida, geralmente utilizado na fabricação de artesanatos.



17) Encontre um pé de cabaça, pegue um de seus frutos, abra-o, limpe-o, e faça dois pequenos furos em sua base.




18) Passe um pedaço de barbante pelos furos, amarrando suas pontas. O tamanho do barbante depende da envergadura da verga.


FASE 4 - A montagem


19) Com a base da verga firme no chão e já com o arame preso ao pivô, envergue a madeira acompanhando-a com o arame. Para estabilizar a envergadura, enrole o arame na extremidade superior da verga com o auxílio do barbante previamente amarrado em seu laço menor.


20) Taí seu brinquedo.



21) Teste o som do seu mais novo berimbau. A qualidade do som depende do casamento perfeito entre verga, cabaça, barbante e tocador.


FASE 5 - A roda


22) Prepare a bateria...



23) ...e perna pro ar!

Capoeira - Maculelê: Dança e Luta

Existe em Santo Amaro da Purificação, Bahia, uma dança, um jogo de bastões remanescentes dos antigos índios cucumbis. É o maculelê. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígina, pois foi trazida dos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam.

A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois.

Os passos da dança se assemelham muito aos do frevo pernambucano, são saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo fundamental para a execução de muitos trejeitos de corpo dos dançarinos.

O maculelê tem muitos traços marcados que se assemelham a outras danças tradicionais do Brasil como o Moçambique de São Paulo, a Cana-verde de Vassouras-RJ, o Bate-pau de Mato Grosso, o Tudundun do Pará, o Frevo de Pernambuco, etc.

Se formos olhar pelo lado do conceito de que maculelê é a dança do canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de canas nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade era uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura encontrassem na hora.

Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Uma outra versão diz que para se safarem das chibatadas dos feitores e capatazes dos engenhos, os negros dos canaviais se defendiam com pedaços de pau e facões.

Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor.

Atualmente a dança do maculelê é muito praticada para ser admirada. É parte certa na apresentação de grupos de capoeira e em eventos realizados como formatura, encontros, batizados, etc. É fundamental se preservar a dança do maculelê, ensina-la com destreza e capacidade aos alunos para que eles possam eventualmente fazer belas apresentações.

É maravilhoso podermos ver um maculelê bem feito, dançado por belas garotas vestidas a caráter ou por rapazes negros, fortes e raçudos. O maculelê pode ser feito com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos. É um espetáculo perigoso, pois corre-se o risco de se queimar. Porém, é uma das coisas mais bonitas de se ver. Exige muita habilidade dos dançarinos.

"Sou eu, sou eu ... sou eu maculelê, sou eu ..." " Ô ... boa noite pra quem é de boa noite Ô ... bom dia prá quem é bom dia A benção meu papai a benção Maculelê é o rei da valentia ..."


Puxada de Rede
A peça retratada na puxada de rede, conta a história de um pescador que ao sair para o mar para fazer o sustento da família, em plena noite, despede-se de sua mulher que acaba por ter um mau pressentimento. Preocupada com a partida do marido ela o assusta dizendo dos perigos de sair à noite, mas o pescador sai e a deixa chorando e os filhos assustados.
Mesmo assim o pescador sai para o mar e leva consigo uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, seus companheiros e a benção de Deus. Muito antes do horário previsto para a volta dos pescadores, que seria às cinco horas da manhã, a mulher do pescador, que ficou na praia esperando a hora do arrasto, teve uma triste visão: ela vê o barco voltando com todos à bordo muito triste e alguns chorando.
Na manhã seguinte, quando os pescadores desembarcam, ela dá falta do marido e os pescadores dizem que ele caiu no mar por conta de um descuido e, devido à escuridão da noite, não foi possível encontrá-lo, ficando ele perdido na imensidão das águas.
Ao amanhecer, quando foram fazer o arrasto na praia, já com o dia claro, todos viram no meio dos poucos peixes que vieram, o corpo do pescador desaparecido. A tristeza foi instantânea e o desespero tomou conta de todos ali presentes.
Prosseguem-se então os rituais fúnebres do pescador, sendo levado à sua morada eterna pelos amigos que estavam com ele no mar. Seu corpo segue carregado nos ombros, pois a situação financeira não comportaria a compra de uma urna. O cortejo segue pela praia.




mestre Nô Mestre Nô

Norival Moreira de Oliveira nasceu em Coroa, Itaparica, Salvador, Bahia, Brasil, no 22 Junho de 1945. Aos 7 anos, a família se transferiu para Massaranduba, bairro popular da cidade baixa de Salvador não muito longe da igreja do Bonfim.
Os irmãos Nilton e Cutica, temidos capoeiristas de rua, foram os seus primeiros mestres, no bairro. Levavam o menino para as rodas de rua dos mestres velhos Pirró e Zeca. Nessas rodas só entrava quem fosse bom.
No decorrer do tempo, o jovem Nô pôde jogar e até começou a ensinar. Uma pessoa de boas ligações social, Tolentino Nicolau dos Santos, mais conhecido como Tutú, propiciou a estabilização do grupo numa academia. Mestre Nô fundou a academias Retintos, depois Orixas da Bahia, ainda existante sob a direção do mestre Dinelson. Em 1980, depois de ter-se mudado para a Boca do Rio, fundou a academia Palmares.
Ele tem ensinado para milhares de capoeiristas. É presidente fundador da Associação Brasileira Cultural de Capoeira Palmares. Hoje, Mestre No mora com a esposa, os filhos e netos no bairro da Boca do Rio, Salvador. Ensina em Pituba e, alguns meses cada ano, em Nova Iorque. É chamado pelos alunos no Brasil e no mundo para participar em eventos, promover capoeira e dar orientação.

Mestre Sombra Mestre Sombra

Roberto Teles de Oliveira, Mestre Sombra, nasceu no 6 de fevereiro de 1942 em Santa Rosa de Lima (Sergipe), numa família de pequenos comerciantes.
Trabalhou na construção em Aracaju. Em 1962, mudou-se para Santos, SP. Fiz diversos tipos de serviços. Em 1963 entrou no grupo de capoeira Bahia do Berimbau, do Mestre Olímpio Bispo dos Santos, baiano de uns 60 anos, aposentado do sindicato dos ensacadores. Em 1968, começou a trabalhar nas Docas de Santos. O grupo jogava a capoeira em Itapema (hoje Vicente de Carvalho); mudou-se, com bastante dificuldades, para Santos, depois da morte do mestre em 1972, época em que o agora mestre Sombra passou a assumir o cargo na associação de capoeira então chamada Zumbi.
Em 1974, a associação registou-se na Federação Paulista de capoeira, mudando o nome para Senzala. Em 1975, conseguiu o salão onde até hoje se encontra, na rua Bras Cubas, n. 227. A academia de capoeira Senzala tem formado várias gerações de professores e mestres, sendo a obra de Mestre Sombra conhecida e reconhecida em Santos e na baixada santista tanto através dos inúmeros eventos e apresentações em que a Senzala tem participado e organizado que graças ás academias abertas por formados do mestre. Mestre Sombra tem sido coordenador do Conselho da Comunidade Negra de Santos.
Em 1993, se aposentou das Docas, abrindo um comércio de modas e roupa de capoeira, o Bazar Senzala, em Santos. Em muitas ocasiões está chamado para viajar para o Brasil, a Europa e a América, afim de dar força e apoio aos seus ex-alunos no ensino da capoeira.

Falou mestre Sombra...

Mestre Sombra gosta de falar aquelas frases que vocé vem relembrando, sem saber se vocé entendeu mesmo o que quer dizer, frases de poeta para homem pensar:
Jogar capoeira é pôr o corpo em oração.
Capoeira luta sem vencer, porisso vence sem lutar.
... e mais outras

Mestre Um por Um Mestre Um-por-Um

Nilton Machado de Almeida (Mestre Um-por-Um), nasceu em Salvador, Bahia
no 20 de fevereiro de 1957.
Começou a aprender o jogo de capoeira em 1972 junto com o mestre Diton, na Massaranduba, bairro de Salvador. Conta que o mestre nem estava a fim de admitir-lo, pois achava ele muito duro de aprender. Mas mesmo assim, Diton chegou a se orgulhar do menino de rua seu aluno, que pagou as primeiras aulas com dias de trabalho,
e depois se deu tão bem nas rodas de capoeira.
Depois de alguns anos, entrou na academia do mestre Nô, no intuito de ganhar um diploma, que não podia conseguir nem com o mestre dele, nem com o Mestre Grande que também ensinou para ele, pois as academias deles não tinham registo oficial. Ficou cinco ou seis anos na academia Orixás da Bahia do mestre Nô (hoje do mestre Dinelson).
Naquele tempo a capoeira já tinha mudado bastante a vida dele, envolvendo-lo num relacionamento social diferente, levando um pouco de dinheiro para ele com os shows, propiciando ele estudar, tanto que por fim, pôde ingressar na Polícia Militar.
A capoeira do tempo dele tinha os seus desafios, mas ele superou as armadilhas e começou a ensinar, e depois de passar por uma série de provas, tornou-se mestre, criando a academia Chapeu de couro.
Mestre Um-por-Um hojé é uma das personalidade da capoeira suburbana de Salvador, continuando a linha daqueles para quem ela representa mesmo uma arte de sobreviver num ambiente social difícil.
Temos gravado uma roda dirigida por mestre Um-Por-Um na Bahia em 2001.

Mestre Beija-Flor Mestre Beija-Flor

Gilberto Quini nasceu em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, no 22 de setembro de 1959.
Em 1972, foi junto com a mãe para São Vicente, litoral de São Paulo. Conheceu a capoeira na cidade vizinha de Santos, na academia Senzala dirigida por mestre Sombra. Ganhou o apelido de Beija-Flor devido a qualidade do jogo acrobático. Apos alguns anos de treinamento, se formou (em 1980). Auxiliou o ensino na Senzala, e depois criou a própria academia. Em 1987 surgiu a oportunidade de viajar para Europa. Após esta primeira visita, resolveu radicar-se em Paris, o que fez no ano seguinte, dando início à Association de Capoeira Paname. Recebeu o primeiro grau de mestre de capoeira pela FPC em 1988, e o cordel de mestre pela CBC em 1992. Gravou dois discos de capoeira em Paris na companhia Musiques du Monde, o primeiro dos quais obteve o prêmio Diapason d'Or.

China Russo de Caxias

Jonas Rabelo, nascido em 22 setembro 1956. Inicia a aprendizagem em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, subúrbio do Rio de Janeiro, em 1968 com Idelfonso Ribeiro dos Santos «Crioulo». De 1972 a 1975, torna-se aluno de mestre Barbosa na academia de gimnástica «Lider» em Duque de Caxias. Em 1973, Russo com alguns companheiros resolvem manter uma roda de capoeira cada domingo na rua na praça do Pacificador, centro do município de Duque de Caxias. Esta iniciativa vai causar rixas com mestre Barbosa, adepto da capoeira esportiva, aderente ao sistema federal que condena a prática fora das salas de esporte, ainda mais sem uniformes nem cordas, que, na sua opinião, relembra por demais o passado marginal da capoeira. No contrário, Russo e seus amigos preocupam-se de manter a capoeira dentro do meio popular de que ela brotou. Russo abandona a capoeira essportiva em 1975. Enquanto alguns dos seus companheiros, ao redor de Pedro Trindade Moraes (mestre Moraes, fundador do GCAP) resolvem identificar-se à correnteza da Capoeira Angola, Russo prefere ficar sem rótulo. Qualquer um pode jogar dentro da «Roda Livre» de Caxias , desde que mantenha o respeito. Manter a integridade do jogo sempre foi o ideal dos organizadores da Roda Livre – uma ambição às vezes difícil de sustentar.
A « roda livre » de Caxias vai virar uma referência para a capoeira. Ela permanece cada semana deste aquela época com apenas uma interrupção nos anos 1990.
Na « roda livre » cada um fica com a sua personalidade e seu estilo. O que prezamos no primeiro golpe de vista em Russo é a sua ginga.
Ver :
  • Capoeiragem, expressões da roda livre, par mestre Russo
  • O Zelador, DVD

China China

"Chinaxé"
Milton Raimundo de Jesus nasceu na ilha de Itaparica, Bahia, no 22 de setembro de 1968. Seguiu ainda criança os pais ao se mudar par Santos, S.P. Começou a praticar a capoeira no morro; não tinha condição de pagar aulas. Mais tarde entrou na academia Senzala, de mestre Sombra. Treinou muito, e tão desenvolveu as capacidades naturais, que com o apelido de China criou grande fama de acrobata.
"Devido à uma certa facilidade que Deus nós dá, um dom, eu amava acrobacia, e aí, as pessoas sempre vão diretamente, sempre é um ponto do seu corpo, da sua vida, que marca, então digamos o que marcou mais foi a acrobacia, eu não era reconhecido como capoeira, mas eu fazia tudo ligado à capoeira, dentro do jogo".
Em 3 de março de 1994, foi ensinar a capoeira em Barcelona (España), onde já tinha um núcleo oriundo da Senzala de Santos, embora sem professor. Ali fundou a associação Raizes de Senzala. Passados poucos anos, resolveu entregar-se inteiramente ao estudo e ensino da capoeira Angola, dentro dos padrões de que permanece hoje.
"Encontrei a capoeira Angola, foi na academia de mestre Sombra, quando o mestre começava a dar os primeiros movimentos, ele mostrava vídeos, então a partir daí eu comecei a me apaixonar, e ele começou a fazer um trabalho específico a capoeira de Angola, isso, há quinze anos atrás, e a partir dos oito anos, que estive na Espanha, eu tive a possibilidade de ir à Bahia, de conhecer realmente a capoeira de Angola, dos baianos, e tive mais possibilidade e accesso de entrar mais em encontro com aquela cultura. Então em primeiro princípio foi na Senzala de Mestre Sombra, como está até hoje". -- China, 19 maio 2002.

 

História

A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manoel Henrique que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado com Besouro Mangangá por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Muitos e grandiosos feitos lhe são atribuídos. Diziam que não gostava da polícia (que diversas vezes frustrou-se ao tentar prendê-lo), que tinha o "corpo fechado" e que balas e punhais não podiam feri-lo. Certa época, quando Besouro trabalhou numa usina, por não receber o ordenado, segurou o patrão pelo cavanhaque e o obrigou a pagar o que lhe devia.
As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente na capoeira. Um fazendeiro, conhecido por Dr. Zeca, após seu filho Memeu apanhar de Besouro, armou uma cilada, mandando-o entregar um bilhete a um amigo que administrava a fazenda Maracangalha. Tal bilhete pedia para que seu portador fosse morto. Besouro, analfabeto, não pôde ler que aquele bilhete era endereçado ao seu assassino e que esclarecia que o portador era a vítima, ou seja, ele próprio. Assim, no dia seguinte, ao voltar para saber a resposta, 40 soldados o estavam esperando. Um homem conhecido por Eusébio de Quibaca acertou-lhe nas costas uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de matar um homem de Corpo Fechado.

Cadê o Besouro

Canção muito conhecida na capoeira
Besouro Mangangá era homem de corpo fechado
Bala não matava e navalha não lhe feria
Sentado ao pé da cruz enquanto a polícia o seguia
Desapareceu enquanto o tenente dizia

Cadê o Besouro
Cadê o Besouro
Cadê o Besouro
Chamado Cordão de Ouro

Besouro era um homem que admirava a valentia
Não aceitava a covardia Maldade não admitia
Com a traição quebrou-se a feitiçaria
Mas a reza forte só Besouro quem sabia

Atrás de Besouro,
o tenente mandou a cavalaria
No estado da Bahia
E Besouro não sabia

Já de corpo aberto,
Fez sua feitiçaria
Cada golpe de Besouro
Era um homem que caia
Hoje Besouro é conhecido como Cordão de Ouro, o exu das sete encruzilhadas, ele está presente nos terreiros de umbanda onde incorpora em mediuns. Besouro quando chega no terreiro senta-se no chão em posição de lótus. Besouro quando vem trabalhar não gosta muito de conversar e gira nos seus protegidos calados.

Filme

Uma adaptação cinematográfica da história de Besouro, dirigida por João Daniel Tikhomiroff, estreou no Brasil no dia 30 de outubro de 2009. Besouro foi interpretado por Ailton Carmo. O trailer foi o de maior sucesso do cinema brasileiro no ano.

Mestre Pastinha

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (Salvador, 5 de abril de 1889 — Salvador, 13 de novembro de 1981), foi um dos principais mestres de Capoeira da história.
Mais conhecido por Mestre Pastinha, nascido em 1889 dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto. Em depoimento prestado no ano de 1967, no 'Museu da Imagem e do Som', Mestre Pastinha relatou a história da sua vida: "Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza." A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existência.
"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui". Começou então a formação do mestre que dedicaria sua vida à transferência do legado da Cultura Africana a muitas gerações. Segundo ele, a partir deste momento, o aprendizado se dava a cada dia, até que aprendeu tudo. Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."
Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.
Em 1941, fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia. Hoje, o local que era a sede de sua academia é um restaurante do Senai.
Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.
Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, Curió, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso. Morreu aos 93 anos.
Vicente Ferreira Pastinha morreu no ano de 1981. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo. "Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:
"Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."

Capoeira tem história

Mestre Barrão

Capoeira tem história
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação
Capoeira tem historia
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação
Ela foi praticada nos quilombos
Ela foi perseguida na senzala
Capoeira é força, é voz
Do povo que luta a não se cala
Capoeira tem história
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação
Zumbi um valente guerreiro
No grito derradeiro a messagem deixou
Capoeira é luta, conciência
Ela é a essência do povo lutador
Capoeira tem história
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação
Rio, Recife, Bahia falo com alegria
Onde tudo começou
Capoeira luta brasileira
Passou fronteira no mundo se espalhou
Capoeira tem história
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação
Hoje corro pelo mundo
Eu não sou vagabundo, sou educador
Capoeira é a minha matéria
Me tirou da miséria, me formou professor
Capoeira tem história
Capoeira tem tradição
Capoeira deixou na marca
Do povo africano na nação

Mestre Bimba

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Manoel dos Reis Machado, também conhecido como Mestre Bimba (Salvador, 23 de Novembro de 1900 - Goiânia, 15 de Fevereiro de 1974), foi criador da Luta Regional Baiana, mais tarde chamada de capoeira regional.
Ao perceber que a capoeira estava perdendo seu valor cultural e enfraquecendo enquanto luta, Mestre Bimba misturou elementos da Capoeira Tradicional com o batuque[1] (luta do Nordeste Brasileiro extinta com o passar do tempo) criando assim um novo estilo de luta com praticidade na vida, com movimentos mais rápidos e acompanhada de música[1]. Assim conquistou todas as classes da sociedade. Foi um eximio lutador e acima de tudo um grande educador, foi o responsavel por tirar a capoeira da marginalidade. Praticantes dessa arte se denominam "capoeira", pois, para eles, a capoeira é um estilo de vida - ser, pensar, agir como um capoeira.
Bimba empunhava regras para os praticantes da capoeira regional, sendo elas:
- Não beber, e não fumar. Pois os mesmos alteravam o desempenho e a consciência do capoeira.
- Evitar demonstrações de todas as técnicas, pois a surpresa é a principal arma dessa arte.
- Praticar os fundamentos todos os dias.
- Não dispersar durante as aulas.
- Manter o corpo relaxado e o mais próximo do seu adversário possível, pois dessa forma o capoeira desenvolveria mais.
- Sempre ter boas notas na escola.
No vídeo Relíquias da Capoeira - Depoimento do Mestre Bimba, um documento audiovisual em VHS produzido por Bruno Farias, o próprio Manuel comenta sobre os motivos que o fizeram se mudar para Goiânia, onde ele conseguiu mais apoio financeiro[1]. Posteriormente, em uma reunião de especialistas em capoeira no Rio de Janeiro, explica-se mais sobre o nome do esporte, sobre a criação da capoeira regional e sobre esse lendário personagem chamado Mestre Bimba.
A versão original do vídeo, veiculada em 2006 pela extinta PAM TV Florianópolis (Antigo canal 17 da TVA), acabou se extraviando. Porém, recentemente, o jornalista Bruno Farias encontrou no antigo acervo da emissora uma amostra de 2 minutos do Relíquias da Capoeira: Depoimento do Mestre Bimba e escreveu uma matéria sobre o assunto, publicada no site da Revista de História da Biblioteca Nacional, junto à referida amostra.

 

Lutando, dançando, brincando, cantando:



Sobre a arte de caminhar pela vida com a capoeira

por Ricarda Bruder Sem Paulo Siqueira, residente em Hamburgo desde 1984, faltava um instrumento importante à orquestra da capoeira na Europa. Ele conseguiu chamar à atenção tanto da imprensa na Alemanha como também no Brasil. Como músico fundou o grupo Favela que apresentou o álbum The Voice of Capoeira. Realiza com o grupo Abolição apresentações em palco de capoeira e de música afro-brasileira. Como um dos fundadores do movimento CapoEuropa, que reúne vários mestres de capoeira trabalhando na Europa, organizou em Hamburgo a maioria dos até hoje no Brasil conhecidos Encontros Internacionais de Capoeira que se realizam anualmente desde 1987. E last but not least é também professor na sua academia em Hamburgo e em Hanôver. O seu trabalho é uma fonte importante para o desenvolvimento da capoeira na Europa e para o seu reconhecimento no Brasil. Capoeira é o 'jogo´ acompanhado por música que os escravos desenvolveram para disfarçar a sua luta mortal como dança. Depois da abolição da escravatura, a arma do escravo passou a ser arma do marginalizado. O famoso mestre Bimba apresentou nos anos 30 uma capoeira modificada e assim conseguiu a liberação da sua prática. Pastinha foi outro famoso mestre que tentou guardar a tradição na hoje chamada Capoeira de Angola. Os outros professores à frente mencionados são mestres de capoeira que também frequentam os Encontros Internationais em Hamburgo. Ricarda Bruder falou com Paulo Siqeira para Matices. Matices: Como descreve você as diferentes tendências que existem na capoeira?
Paulo Siqueira: Tem dois estilos de capoeira. A Capoeira Regional, que a gente também chama de Bimba, vai na tendência da luta e trabalha muito a parte física e atlética. Na Capoeira de Angola as pessoas procuram ficar com a parte tradicional que é a parte mais básica de ritmo e de cantos. E daí já saem várias outras tendências, porque a capoeira não é estática. Ela evolui em conjunto com o professor e vai se modificando de acordo com o lugar, adaptando-se a situações novas. Aqui na Europa por exemplo vão se criando movimentos novos. A tendência mais nova é a incorporação da Capoeira de Angola com a Capoeira Regional, a mistura, a junção das duas. A gente a chama moderna ou contemporânea.
Matices: E como você chamaria o seu próprio estilo?
Paulo: O que eu faço é essa capoeira mais moderna. Ela tem a luta, mas passa a não ser violenta, é bem mais solta e tem a 'brincadeira´ dentro dela. Eu desenvolvi esse estilo porque tive influência das duas, Regional e de Angola. A gente hoje em dia ainda não tem uma definição do que é isso. Talvez possa se chamar 'Capoeira Angonal´. Mas eu não posso definir a minha capoeira. É capoeira, jogo capoeira!
Matices: Existe também uma capoeira competitiva, não é?
Paulo: Sim, tem campeonatos de capoeira e tem uma Federação e uma Confederação de Capoeira no Brasil. Se você participa pela Federação de Capoeira, tem que fazer campeonato regional, estadual e nacional, por classes de peso e de grau. Tem cordas e tem a nomenclatura dos movimentos. As lutas competitivas da capoeira são baseadas nas lutas asiáticas como o Karate por exemplo.
Matices: Você acha que os campeonatos de capoeira podem estragar o que a capoeira antigamente era?
Paulo: Eu não gosto do campeonato. Também não faço parte da Federação. Mas olhe, o campeonato de capoeira existe desde que Bimba criou a Capoeira Regional, para a legalizar como desporto nacional. Para legalizar um desporto tem que haver competição. E a Capoeira para ficar legal teve que estabelecer campeonatos e criar a Federação. Agora já querem tentar levar a capoeira até as Olimpíadas. O brasileiro às vezes sonha demais, né!
Matices: Então você acha que esta legalização foi o ponto de partida para o sucesso da capoeira?
Paulo: Vou dizer uma coisa. O problema é que o Brasil é um país racista. A capoeira foi proibida porque dava identificação ao negro ... o Samba também. Tudo que dava identificação ao negro foi proibido e era ruim. No futuro, a capoeira talvez possa dar uma identificação ao brasileiro. Mas no passado ela foi muito combatida. O Brasil é um país racista. Eu sou negro, eu é que sei. Se você ligar a televisão, você pensa que está na Europa. O preto não faz nada, nem escova os dentes, nem toma cerveja. Você lê um jornal ou uma revista, os meios de comunicação e vê como o Brasil ainda é um país racista. O negro só serve para jogar a bola e para tocar tambor. O negro está presente, mas ele não tem chance de atingir os mesmos meios como o branco. Por quê não posso fazer isso ou aquilo? Ou por quê não posso entrar em certos lugares? Por quê? A gente pode ficar puto da vida por causa disso. Só quem sabe é quem passou. Por exemplo, para dar aulas em certos lugares, o professor tem que ser um branco, não pode ser um preto. Numa escola ou num clube 'bacana´, o preto não vai dar aula. O director não quer, de jeito nenhum. Bimba deu um empurrão à capoeira, porque ele fez uma escola e deu aula ao branco. Aí a capoeira passou para a classe média, ficou sendo uma coisa oficial. Imagine a sua mãe se você dissesse que queria fazer capoeira:"Minha filha vai fazer capoeira? 'Tá maluco? Isso é coisa de negro, de bandido", né! De setenta para cá, Bimba já teve aluno que estudava para professor de educação física. Aí a sua mãe já dizia:"Ah, olhe um professor de educação física! Minha filha já pode fazer aula com ele." A capoeira ficou sendo aceita também pela classe dominante. Só que isso também foi porque a capoeira começou a fazer sucesso no estrangeiro como na Europa, por exemplo. Eu contribui um bocado para isso! Assim que a capoeira está na Europa, ela também é boa para o Brasil, né!
Matices: O sucesso da capoeira no estrangeiro é importante para você pessoalmente também?
Paulo: Sim, claro! A capoeira está forte aqui na Europa, isso também é bom para a gente. A capoeira vem do escravo ... da gente ... porra ela está fazendo um sucesso na Europa! Aquilo é meu também. Sou capoeirista, sou negão, vou ficar orgulhoso! Foi minha gente que fez essa porra aí.
Matices: Como funciona a comunicação entre os mestres?
Paulo: Mal! Mal para caramba! Os grupos não se misturam muito e as vezes até se dão mesmo mal. Também é uma forma de se protegerem, de protegerem o seu território. Os grupos de capoeira têm a sua história. Antigamente quem pertencia a um grupo não deixava entrar ninguem que pertencia a um outro grupo vizinho. Saiu uma tese de um historiador que fez uma pesquisa baseada nos livros penitenciários, do estilo:”Deu entrada no dia de hoje um negro, escravo, de Senhor tal e tal. Foi preso por fazer capoeiragem no lugar tal e tal.” Aí se vê que os negros usavam a capoeira não só como luta de libertação contra a escravidão mas também como meio de disputa entre eles. Isso está no sangue da gente e você encontra o mesmo problema na África. Na Nigéria, por exemplo, as etnias estão só em luta entre elas.
Matices: Mas sem comunicação os capoeiristas não podem lutar pelos seus direitos como por exemplo o de ensinar numa escola.
Paulo: Quando se encontram vários mestres, eles conversam, mas eles não chegam num ponto em comum. Por um lado é bom para a capoeira, porque ninguém toma conta! A capoeira não pertence a ninguém, não pode chegar por exemplo a Coca-Cola e querer tomar conta. Para o Europeu ou para o Asiático tem que ser tudo certinho. Na capoeira não é assim, ainda bem! Ninguém vai dizer:"Eu sei! Agora tem que ser todo mundo igualzinho!" O quê? Igualzinho? Imagina uma coisa com todo mundo igualzinho. Porra! Não! Eles fazem o seu e eu faço o meu. Na capoeira, as pessoas têm direito de escolher e de se adaptar com quem se gosta. Um cara que não sabe da minha vida pode-me dizer o que eu tenho que fazer? Porra! 'Tá maluco! De jeito nenhum! Eu trabalhei quinze anos aqui com capoeira, eu não preciso disso. A gente é temperamental como o africano. E o capoeirista é o cara que gosta de tomar a sua cerveja, fumar cigarro, fumar bagulho, ficar na boemia. Esses são os verdadeiros capoeiristas que mantêm a tradição. O capoeirista é o cara mais vivido da rua, com mais experiência de vida. Ele já passou muita dificuldade, já dormiu na rua, debaixo da ponte ou dentro do trem. Ele já passou fome, foi tentar fazer a vida, deu mal, foi não sei aonde ... . A maioria dos capoeiristas da minha geração passaram por tudo isso. Hoje já é um pouco diferente, porque ser professor de capoeira já é uma profissão. No Brasil 50% das escolas têm capoeira para crianças.
Matices: Qual é o papel da música na capoeira?
Paulo: A música é fundamental, claro. Sem música, não tem capoeira. Antigamente se tocava o tambor. No princípio desse século, as pessoas se uniam nos lagos, por exemplo, para fazer rodas de capoeira e festas de música. A partir daí se incorporou o berimbau como o instrumento mais importante na capoeira. Hoje em dia o mais difícil é que já ninguém joga com ritmo. Então começamos a dar aula de música, porque como o pessoal daqui não conhece o samba ou o carnaval é mais difícil aprender o ritmo, e as letras são em português e muita gente não sabe português. Agora no Brasil também já se dá aulas de música. É uma novidade que saiu daqui. Pergunta ao Marrom se ele alguma vez teve uma aula de música; agora ele dá aulas de música.
Matices: Há músicas que cantam a história escravagista do negro como por exemplo esta: As vezes me chamam de negro/ pensando que vão me humilhiar/ mas o quê eles não sabem/ é que só me fazem lembrar/ que eu venho daquela raça/ que lutou pra se libertar/.../. São bonitas mas ficam estranhas quando um aluno alemão as canta. Você ensina essas músicas aos seus alunos?
Paulo: Não, nem um brasileiro branco pode cantar essas músicas. Hoje na aula nós cantamos -Por favor não maltrate esse negro/ esse negro foi quem me ensinou/ esse negro do cabelo grande, com a barba pelada é meu professor/.../- eu canto me espelhando na música. Eu falo isso para os meus alunos:"Não decorem a música, porque a música de capoeira tem um sentimento e você tem que cantar com sentimento!" Quando alguém canta uma chula como: Uma vez/ perguntaram seu Pastinha/ o quê é a capoeira/ .../ eu falo para ele:"Você 'tá cantando isso para quê? Decorou, não 'tá sentindo nada!" Ele pode cantar -O la uê la e la- ou -Paraná uê Paraná- mas cantar uma chula, os fundamentos da capoeira, puxar uma coisa muito forte, não pode. Isso só pode cantar o cara que é cantador. O Sorriso, por exemplo, é cantador. Quando ele puxa uma chula de capoeira todo mundo pára para escutar o que está falando. Outros como o Grilo não podem cantar, porque não sabem cantar, então não cantam. Eu já falei para ele:"Não canta aqui na minha roda não!" Mas se você tiver o sentimento dentro de você, pode cantar, que o sentimento vai passar e todo mundo vai parar para te ouvir.
Matices: Qual é a experiência mais importante que as pessoas podem ter com a capoeira?
Paulo: A base da capoeira se chama integração! No Brasil, as pessoas vão para a capoeira para conhecer gente. As vezes uma pessoa é antisocial, as vezes não conhece ninguém, não consegue falar direito. Na Capoeira ele descobre uma família, faz amigos mesmo. As crianças da rua têm a chance de fazer uma coisa creativa.
Matices: Você aqui também trabalha com crianças e jovens. A capoeira é uma ajuda para os seus problemas?
Paulo: O trabalho que eu fiz aqui com um grupo de jovens criminais fazia parte de um projeto social. Não funcionou, porque era um negóçio programado pelo 'Sozialpädagoge´. Me respeitavam mas como não me tinham procurado era mais uma obrigação e não conseguimos continuar depois do projecto. A relação que eu tenho com os alunos é diferente. Quando eu perco um aluno, para mim é uma miséria. O aluno, ás vezes, não entende. Para ele é normal ir treinar para outro lado. Mas o professor sente, ele perdeu um pedaço dele.
Matices: Como foi a sua experiência na Alemanha e com os alunos alemães?
Paulo: No começo foi mesmo ruim. Eu aqui fui um pioneiro, quando cheguei ninguém sabia o que era a capoeira. Pensavam que era uma meditação, dança da barriga, tudo menos capoeira. Já melhorou muito, as pessoas já estão entendendo, já tem literatura. Também fui uma pessoa que abriu os caminhos para os outros. Eu tive que cortar, ir desbravando o mato, pisando na cobra, levando mordida de cobra, para depois o outro já não pisar mais na cobra. Tive muitas dificuldades, passei muitas coisas ruins, mas para mim foi bom, acrescentou muito à minha vida. Me admiram porque estou esse tempo todo aqui. Se eu estivesse no Brasil já tinha alunos formados dando aula. Aqui não é assim. Vai muito devagarinho até os primeiros alunos poderem dar aula. O clima aqui também não ajuda muito. Mas a capoeira não é um negóçio impossivel. Para aprender, você só precisa de força de vontade. É só uma questão de você querer.

HISTORIAS DA CAPOEIRA

 

Capoeira vira Patrimônio Cultural brasileiro 

Capoeira vira Patrimônio Cultural brasileiro

Em um Palácio Rio Branco cercado por aproximadamente 20 grupos de capoeira da Bahia, do Rio e de Pernambuco, no centro de Salvador, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) acolheu por unanimidade, na tarde desta terça (15), o pedido de registro da capoeira como Patrimônio Cultural brasileiro, feito pelo Ministério da Cultura. É o ponto alto de uma história repleta de altos e baixos. "Não se pode esquecer que a prática foi, por muitos anos, considerada crime pelo Código Penal", lembra a historiadora e capoeirista Adriana Albert Dias. "Hoje, é um símbolo nacional espalhado pelo mundo."

Os registros mais antigos da capoeira vêm do século 18. Era praticada por escravos, sobretudo os vindos de Angola. O esporte-dança foi considerado crime até o fim da década de 1930. Só a partir de lá começou a alçar a fama, hoje estendida a cerca de 150 países. Agora, passa a ser um dos 14 Patrimônios Culturais do país, junto com o frevo, o samba carioca e o ofício das baianas de acarajé, entre outros.

"Se hoje a manifestação é legitimada como um dos principais símbolos da cultura brasileira, foi por muito sacrifício, em especial dos mais antigos", conta o historiador e pesquisador do tema Frede Abreu. "Hoje, a maioria deles está em má situação financeira." Na prática, a elevação da capoeira a Patrimônio Cultural prevê, além da inscrição, como Bens Culturais de Natureza Imaterial, do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro de Saberes e da Roda de Capoeira no Livro das Formas de Expressão, a criação de um plano de previdência especial para os "velhos mestres". Gente como Francisco de Assis, o mestre Gigante, de 84 anos. "Preciso muito dessa ajuda", diz Assis, que já participou de rodas de capoeira com os lendários mestres Bimba e Pastinha, ícones da expansão da atividade.

Para o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, o reconhecimento é um passo para que se estabeleçam "políticas públicas concretas" para a atividade. As próximas medidas para a preservação da capoeira, além do plano especial de previdência, de acordo com ele, são o estabelecimento de um programa de incentivo da atividade no mundo e a criação de um Centro Nacional de Referência da Capoeira, com sede em Salvador. "Vamos transformar a cidade em uma espécie de Meca da capoeira", afirma. (Tiago Décimo)

Lutando, dançando, brincando, cantando:



Sobre a arte de caminhar pela vida com a capoeira

por Ricarda Bruder Sem Paulo Siqueira, residente em Hamburgo desde 1984, faltava um instrumento importante à orquestra da capoeira na Europa. Ele conseguiu chamar à atenção tanto da imprensa na Alemanha como também no Brasil. Como músico fundou o grupo Favela que apresentou o álbum The Voice of Capoeira. Realiza com o grupo Abolição apresentações em palco de capoeira e de música afro-brasileira. Como um dos fundadores do movimento CapoEuropa, que reúne vários mestres de capoeira trabalhando na Europa, organizou em Hamburgo a maioria dos até hoje no Brasil conhecidos Encontros Internacionais de Capoeira que se realizam anualmente desde 1987. E last but not least é também professor na sua academia em Hamburgo e em Hanôver. O seu trabalho é uma fonte importante para o desenvolvimento da capoeira na Europa e para o seu reconhecimento no Brasil. Capoeira é o 'jogo´ acompanhado por música que os escravos desenvolveram para disfarçar a sua luta mortal como dança. Depois da abolição da escravatura, a arma do escravo passou a ser arma do marginalizado. O famoso mestre Bimba apresentou nos anos 30 uma capoeira modificada e assim conseguiu a liberação da sua prática. Pastinha foi outro famoso mestre que tentou guardar a tradição na hoje chamada Capoeira de Angola. Os outros professores à frente mencionados são mestres de capoeira que também frequentam os Encontros Internationais em Hamburgo. Ricarda Bruder falou com Paulo Siqeira para Matices. Matices: Como descreve você as diferentes tendências que existem na capoeira?
Paulo Siqueira: Tem dois estilos de capoeira. A Capoeira Regional, que a gente também chama de Bimba, vai na tendência da luta e trabalha muito a parte física e atlética. Na Capoeira de Angola as pessoas procuram ficar com a parte tradicional que é a parte mais básica de ritmo e de cantos. E daí já saem várias outras tendências, porque a capoeira não é estática. Ela evolui em conjunto com o professor e vai se modificando de acordo com o lugar, adaptando-se a situações novas. Aqui na Europa por exemplo vão se criando movimentos novos. A tendência mais nova é a incorporação da Capoeira de Angola com a Capoeira Regional, a mistura, a junção das duas. A gente a chama moderna ou contemporânea.
Matices: E como você chamaria o seu próprio estilo?
Paulo: O que eu faço é essa capoeira mais moderna. Ela tem a luta, mas passa a não ser violenta, é bem mais solta e tem a 'brincadeira´ dentro dela. Eu desenvolvi esse estilo porque tive influência das duas, Regional e de Angola. A gente hoje em dia ainda não tem uma definição do que é isso. Talvez possa se chamar 'Capoeira Angonal´. Mas eu não posso definir a minha capoeira. É capoeira, jogo capoeira!
Matices: Existe também uma capoeira competitiva, não é?
Paulo: Sim, tem campeonatos de capoeira e tem uma Federação e uma Confederação de Capoeira no Brasil. Se você participa pela Federação de Capoeira, tem que fazer campeonato regional, estadual e nacional, por classes de peso e de grau. Tem cordas e tem a nomenclatura dos movimentos. As lutas competitivas da capoeira são baseadas nas lutas asiáticas como o Karate por exemplo.
Matices: Você acha que os campeonatos de capoeira podem estragar o que a capoeira antigamente era?
Paulo: Eu não gosto do campeonato. Também não faço parte da Federação. Mas olhe, o campeonato de capoeira existe desde que Bimba criou a Capoeira Regional, para a legalizar como desporto nacional. Para legalizar um desporto tem que haver competição. E a Capoeira para ficar legal teve que estabelecer campeonatos e criar a Federação. Agora já querem tentar levar a capoeira até as Olimpíadas. O brasileiro às vezes sonha demais, né!
Matices: Então você acha que esta legalização foi o ponto de partida para o sucesso da capoeira?
Paulo: Vou dizer uma coisa. O problema é que o Brasil é um país racista. A capoeira foi proibida porque dava identificação ao negro ... o Samba também. Tudo que dava identificação ao negro foi proibido e era ruim. No futuro, a capoeira talvez possa dar uma identificação ao brasileiro. Mas no passado ela foi muito combatida. O Brasil é um país racista. Eu sou negro, eu é que sei. Se você ligar a televisão, você pensa que está na Europa. O preto não faz nada, nem escova os dentes, nem toma cerveja. Você lê um jornal ou uma revista, os meios de comunicação e vê como o Brasil ainda é um país racista. O negro só serve para jogar a bola e para tocar tambor. O negro está presente, mas ele não tem chance de atingir os mesmos meios como o branco. Por quê não posso fazer isso ou aquilo? Ou por quê não posso entrar em certos lugares? Por quê? A gente pode ficar puto da vida por causa disso. Só quem sabe é quem passou. Por exemplo, para dar aulas em certos lugares, o professor tem que ser um branco, não pode ser um preto. Numa escola ou num clube 'bacana´, o preto não vai dar aula. O director não quer, de jeito nenhum. Bimba deu um empurrão à capoeira, porque ele fez uma escola e deu aula ao branco. Aí a capoeira passou para a classe média, ficou sendo uma coisa oficial. Imagine a sua mãe se você dissesse que queria fazer capoeira:"Minha filha vai fazer capoeira? 'Tá maluco? Isso é coisa de negro, de bandido", né! De setenta para cá, Bimba já teve aluno que estudava para professor de educação física. Aí a sua mãe já dizia:"Ah, olhe um professor de educação física! Minha filha já pode fazer aula com ele." A capoeira ficou sendo aceita também pela classe dominante. Só que isso também foi porque a capoeira começou a fazer sucesso no estrangeiro como na Europa, por exemplo. Eu contribui um bocado para isso! Assim que a capoeira está na Europa, ela também é boa para o Brasil, né!
Matices: O sucesso da capoeira no estrangeiro é importante para você pessoalmente também?
Paulo: Sim, claro! A capoeira está forte aqui na Europa, isso também é bom para a gente. A capoeira vem do escravo ... da gente ... porra ela está fazendo um sucesso na Europa! Aquilo é meu também. Sou capoeirista, sou negão, vou ficar orgulhoso! Foi minha gente que fez essa porra aí.
Matices: Como funciona a comunicação entre os mestres?
Paulo: Mal! Mal para caramba! Os grupos não se misturam muito e as vezes até se dão mesmo mal. Também é uma forma de se protegerem, de protegerem o seu território. Os grupos de capoeira têm a sua história. Antigamente quem pertencia a um grupo não deixava entrar ninguem que pertencia a um outro grupo vizinho. Saiu uma tese de um historiador que fez uma pesquisa baseada nos livros penitenciários, do estilo:”Deu entrada no dia de hoje um negro, escravo, de Senhor tal e tal. Foi preso por fazer capoeiragem no lugar tal e tal.” Aí se vê que os negros usavam a capoeira não só como luta de libertação contra a escravidão mas também como meio de disputa entre eles. Isso está no sangue da gente e você encontra o mesmo problema na África. Na Nigéria, por exemplo, as etnias estão só em luta entre elas.
Matices: Mas sem comunicação os capoeiristas não podem lutar pelos seus direitos como por exemplo o de ensinar numa escola.
Paulo: Quando se encontram vários mestres, eles conversam, mas eles não chegam num ponto em comum. Por um lado é bom para a capoeira, porque ninguém toma conta! A capoeira não pertence a ninguém, não pode chegar por exemplo a Coca-Cola e querer tomar conta. Para o Europeu ou para o Asiático tem que ser tudo certinho. Na capoeira não é assim, ainda bem! Ninguém vai dizer:"Eu sei! Agora tem que ser todo mundo igualzinho!" O quê? Igualzinho? Imagina uma coisa com todo mundo igualzinho. Porra! Não! Eles fazem o seu e eu faço o meu. Na capoeira, as pessoas têm direito de escolher e de se adaptar com quem se gosta. Um cara que não sabe da minha vida pode-me dizer o que eu tenho que fazer? Porra! 'Tá maluco! De jeito nenhum! Eu trabalhei quinze anos aqui com capoeira, eu não preciso disso. A gente é temperamental como o africano. E o capoeirista é o cara que gosta de tomar a sua cerveja, fumar cigarro, fumar bagulho, ficar na boemia. Esses são os verdadeiros capoeiristas que mantêm a tradição. O capoeirista é o cara mais vivido da rua, com mais experiência de vida. Ele já passou muita dificuldade, já dormiu na rua, debaixo da ponte ou dentro do trem. Ele já passou fome, foi tentar fazer a vida, deu mal, foi não sei aonde ... . A maioria dos capoeiristas da minha geração passaram por tudo isso. Hoje já é um pouco diferente, porque ser professor de capoeira já é uma profissão. No Brasil 50% das escolas têm capoeira para crianças.
Matices: Qual é o papel da música na capoeira?
Paulo: A música é fundamental, claro. Sem música, não tem capoeira. Antigamente se tocava o tambor. No princípio desse século, as pessoas se uniam nos lagos, por exemplo, para fazer rodas de capoeira e festas de música. A partir daí se incorporou o berimbau como o instrumento mais importante na capoeira. Hoje em dia o mais difícil é que já ninguém joga com ritmo. Então começamos a dar aula de música, porque como o pessoal daqui não conhece o samba ou o carnaval é mais difícil aprender o ritmo, e as letras são em português e muita gente não sabe português. Agora no Brasil também já se dá aulas de música. É uma novidade que saiu daqui. Pergunta ao Marrom se ele alguma vez teve uma aula de música; agora ele dá aulas de música.
Matices: Há músicas que cantam a história escravagista do negro como por exemplo esta: As vezes me chamam de negro/ pensando que vão me humilhiar/ mas o quê eles não sabem/ é que só me fazem lembrar/ que eu venho daquela raça/ que lutou pra se libertar/.../. São bonitas mas ficam estranhas quando um aluno alemão as canta. Você ensina essas músicas aos seus alunos?
Paulo: Não, nem um brasileiro branco pode cantar essas músicas. Hoje na aula nós cantamos -Por favor não maltrate esse negro/ esse negro foi quem me ensinou/ esse negro do cabelo grande, com a barba pelada é meu professor/.../- eu canto me espelhando na música. Eu falo isso para os meus alunos:"Não decorem a música, porque a música de capoeira tem um sentimento e você tem que cantar com sentimento!" Quando alguém canta uma chula como: Uma vez/ perguntaram seu Pastinha/ o quê é a capoeira/ .../ eu falo para ele:"Você 'tá cantando isso para quê? Decorou, não 'tá sentindo nada!" Ele pode cantar -O la uê la e la- ou -Paraná uê Paraná- mas cantar uma chula, os fundamentos da capoeira, puxar uma coisa muito forte, não pode. Isso só pode cantar o cara que é cantador. O Sorriso, por exemplo, é cantador. Quando ele puxa uma chula de capoeira todo mundo pára para escutar o que está falando. Outros como o Grilo não podem cantar, porque não sabem cantar, então não cantam. Eu já falei para ele:"Não canta aqui na minha roda não!" Mas se você tiver o sentimento dentro de você, pode cantar, que o sentimento vai passar e todo mundo vai parar para te ouvir.
Matices: Qual é a experiência mais importante que as pessoas podem ter com a capoeira?
Paulo: A base da capoeira se chama integração! No Brasil, as pessoas vão para a capoeira para conhecer gente. As vezes uma pessoa é antisocial, as vezes não conhece ninguém, não consegue falar direito. Na Capoeira ele descobre uma família, faz amigos mesmo. As crianças da rua têm a chance de fazer uma coisa creativa.
Matices: Você aqui também trabalha com crianças e jovens. A capoeira é uma ajuda para os seus problemas?
Paulo: O trabalho que eu fiz aqui com um grupo de jovens criminais fazia parte de um projeto social. Não funcionou, porque era um negóçio programado pelo 'Sozialpädagoge´. Me respeitavam mas como não me tinham procurado era mais uma obrigação e não conseguimos continuar depois do projecto. A relação que eu tenho com os alunos é diferente. Quando eu perco um aluno, para mim é uma miséria. O aluno, ás vezes, não entende. Para ele é normal ir treinar para outro lado. Mas o professor sente, ele perdeu um pedaço dele.
Matices: Como foi a sua experiência na Alemanha e com os alunos alemães?
Paulo: No começo foi mesmo ruim. Eu aqui fui um pioneiro, quando cheguei ninguém sabia o que era a capoeira. Pensavam que era uma meditação, dança da barriga, tudo menos capoeira. Já melhorou muito, as pessoas já estão entendendo, já tem literatura. Também fui uma pessoa que abriu os caminhos para os outros. Eu tive que cortar, ir desbravando o mato, pisando na cobra, levando mordida de cobra, para depois o outro já não pisar mais na cobra. Tive muitas dificuldades, passei muitas coisas ruins, mas para mim foi bom, acrescentou muito à minha vida. Me admiram porque estou esse tempo todo aqui. Se eu estivesse no Brasil já tinha alunos formados dando aula. Aqui não é assim. Vai muito devagarinho até os primeiros alunos poderem dar aula. O clima aqui também não ajuda muito. Mas a capoeira não é um negóçio impossivel. Para aprender, você só precisa de força de vontade. É só uma questão de você querer.

segunda-feira, 10 de maio de 2010


ORIGEM DA CAPOEIRA

CAPOEIRA.Quando perguntam a origem local da capoeira, alguns pensam ser ela oriunda da África porque o veículo traz a cor preta na pele.Mas ela nasceu em solo nacional, criada e desenvolvida aqui, por este condutor negro afro-brasileiro.O sanguemestiçodo negro afro-brasileiro, do braço algemado e mercadejado,foi o que ergueu e sustentou a nação: na culinária,no sincretismo religioso,na cultura, na língua(e muito), na música de batucada, no choro, e lamento do grito. Raízes que perfuraram terras, e moveuo sangue abatido do guerreiro índio tornado indolentepela mesquinhezeuropéia que ao tentar escravizá-lo, não obteve sucesso. E resultou naaculturação sob a égide do cristianismo jesuítico. O quecontribuiu pro aborígene entender as diferenças cruciaisentre a ética Tupã e a falta de ética do ‘Em nome de Deus!’ Dos caraíbas.Ao relatar como nasceu a luta, o jogo, a dança, ou a ginga desta terra, se faz necessário registrar aa. que alentam a idéia de que Mam’África é o berço de toda ahumanidade.(...)Ancestrais dos africanos,de cor brônzea, povoaram aquele continente 4mil anos, a.C., passando por um período de adaptação intensiva melanócita, escurecendo a pele, onde o resto corria por conta do fator DNA que manteve a adaptação através da informática genética. Excluiram também aqui,o conceito empulho de raça que, segundo o geneticista italiano Luigi Luca Cavalli Sforza em seu ‘Genes, Povos e Língua’, a humanidade deve ser entendida como uma divisão de miríades de etnias e línguas. Portanto, todos sendo irmãos como numa visãoholística; muito embora nossos irmãos do Oriente Médio, por umângulo separatista, não considerem assim.Suas batalhas milenares, são até hoje, alimentadas pelo ódio do fundamentalismo religioso.Não é menor também, dali, a distância entre este ódio e o que fomentou as guerras intertribais africanas, centenas e centenas de etnias em milhares de nações, no interior de Impérios Afros:A própria organização social tribal dos negros, fomentava o tráfico.Rivalidadestribais e ódios de famílias forneciam aos traficantes a ‘mão-de-obra’ que iam vender na América do Norte e Sul. Em troca, adquiriam bugigangas(miçangas e vidrilhos, guizos, panos baratos, armas e objetos de ferro); importantes moedas de resgate eram a aguardente de cana e o fumo, trocados após o período de guerras incessantes, onde grande parte de tribo vencida era levada ao cativeiro, passando portanto, à categoria de mercadoria negociável’. Entre os Sobas(um dos milhares grupos étnicos) por ex., a escravidão era penalidade imposta aos diversos tipos de delinqüência, e em várias regiões os filhos poderiam ser vendidos pelos pais, e aos reis era lícito escravizar súditos. A todo este sistema não faltou também a intriga intertribal promovida pelos mercadores: portugueses, ingleses, espanhóis, franceses e holandeses, pois sabiam manipular detalhesda Arte da Guerra, a fim de manter este ódio; o objetivo era promover lutas e guerras entre as tribos, para conseqüentemente auferir o produto cativo. Chegavam mesmo a fornecer armas a uma tribo para que invadissem outras; seqüestros de princesas ou mulheres da realeza de uma nação, eram atribuídos a membros de outra tribo. Enfim, enfraqueceram os clãs e dinastias africanas, levando-os à corrupção e a decadência unicamente, para escravizá-los.Até aqui, já se pode construirno imaginárioa respeito do momento, do clima, das circunstâncias propostas pelo contexto histórico-social, no Brasil,à época, como cada área contribuiu para que geminasse aqui, asementeem solo brasileiro_a capoeira. Somou-se a ela, aspectos específicos trazidos pelos negros à Terra Brasilis como a arte da dança. Após a colheita do café, os escravos negros costumavam em algumas fazendas comemorar desafogando a tristeza sufocante da alma. E assim dançavam em um círculo de pessoas no pátio ou terreiro da fazenda, unidos pela dor, batendo palmas e requebrando-se; curiosamente, alguns no interior das senzalas, mesclavam à dança, movimentos acrobáticos de pernas, ou pernadas, como mais tarde viriam a se chamar nas regiões: RJ/Salvador(Ba.)/Recife(Pe.)/SP/eMG.Os negros manifestavam variadas danças guerreiras sob o nome de_ Danse de la Guerre! (São danças rituais com características de luta). Entre elas: a Dança da Zebra _ cerimônia de iniciação realizada entre os nativos de Angola; a Cajuinha __ uma dança guerreira; a Uianga_ dança dos caçadores; a Cuissamba_ dança de julgamento e castigo. Estas danças africanas, junto a outros elementos afins formaram o substrato estético gestual da capoeira.Pouco a pouco, definia-se o aspecto luta oriundo das danças guerreiras(Danse de la Guerre) que expressavam a resistência dos escravos negros ao cativeiro, aos maus tratos e trabalhos forçados sob centenas de chibatadas. Além do que, no convívio dos quilombos com mestiços, e negros da realeza, somou-se a percepção de um aprendizado no silêncio das florestas_ animais em movimento de ataque na densa Mata Atlântica. Informações que moldaram tanto o barro quanto o oleiro. O capoeira de golpes mortais. Criava e fortalecia a defesa pessoal, mantendo a sobrevida. Nascimento da luta Nacional_ a gana pela liberdade, e a conquista pela carta de alforria.. Nasceu a capoeira, no mato ralo da serra ou mesmo no capoeirão! É nossa!O espírito dela foi forjado pelo tempo, oriundo da bravura do aborígene, da resistência e cumplicidade do negro, e pela disciplina do homem branco.‘Quando as individuali
dades se somaram surgiu a 'brasileirice'.. Magda Prior.